Em setembro de 2007, ela residia em Vilhena, e aqui conheceu uma escola de kung fu
Vilhena, RO - Quando se formou em nutrição, há 20 anos, Giovanna Lopes não imaginou que sua vida viraria de cabeça para baixo pouco tempo depois. Em setembro de 2007, ela residia em Vilhena, e aqui conheceu uma escola de kung fu. Despretensiosamente, a então nutricionista começou a frequentar as aulas por curiosidade e nunca mais parou.
Anos depois, a nutrição assumiria um papel secundário na vida de Giovanna. Desde 2015, ela é uma shifu - nome dado àqueles que ensinam a prática do kung fu. Da paixão inicial pela arte marcial até a concretização como professora, ela passou por um longo processo, algo que chamou de “evolução gradativa”.
Para Giovanna, o caminho para virar shifu foi “natural” depois de atingir a faixa preta. Atualmente, com 47 anos, ela atua como nutricionista de forma esporádica e faz questão de se apresentar como professora de kung fu.
“Eu sempre trabalhei como nutricionista, mas o kung fu foi fazendo tão parte da minha vida que fui deixando a minha profissão de formação”, conta.
Giovanna define o kung fu como um “estilo de vida”. Segundo a professora, os ensinamentos aprendidos nas aulas reverberam para fora dali e ela faz um paralelo entre a prática e a terapia, o que ressalta esse lado do cuidado mental tão presente nos praticantes da arte marcial.
“Eu não vivo sem kung fu mais. Ensinar kung fu, pra mim, é uma terapia. Meu mestre me fala, de uma maneira diferente, as mesmas coisas que meu terapeuta diz. Por exemplo, ele diz: ‘quando você está tomando seu café da manhã, você só pensa no seu café da manhã. Quando você está praticando o kung fu, você se dedica totalmente ao kung fu, esteja 100% dentro da atividade que está fazendo. Tudo na minha vida eu trago do kung fu’”, explica.
Entre os benefícios proporcionados pelo kung fu, a shifu cita desenvolvimentos na parte física e mental, como melhora na flexibilidade, fortalecimento muscular, redução do estresse e aumento da concentração.
Fernando Castro, um dos alunos de Giovanna, sentiu na pele uma melhora significativa na saúde física desde que começou no kung fu.
“O maior benefício que o kung fu me trouxe foi na saúde, porque ele é muito baseado em exercício físico. Você tem que realmente ter uma boa condição física, fortalecimento dos músculos, dos ossos, postura, e também na coordenação motora”, argumenta.
O engenheiro civil de 45 anos conheceu o kung fu em 2018 por meio do cunhado, que já havia praticado a artemarcial na adolescência. Fernando levou a filha para treinar com ele e, desde então, nunca abandonou as aulas.
O estilo praticado e ensinado por Giovanna é o kung fu hung ga. Com origem no sul da China, ele é um dos mais de 400 estilos de kung fu catalogados e seu sistema foi desenvolvido durante a dinastia Qing (1644-1912). Esta vertente, ensinada e praticada por Giovanna, remonta ao grande herói chinês Wong Fei Hung (1847-1924), cuja história virou tema de dezenas de filmes. Ele é considerado um dos maiores artistas marciais da história chinesa.
O mestre de Giovanna é Frank Yee, um chinês radicado em Nova York e importante nome na divulgação do kung fu tradicional no ocidente. Yee faz parte da 3ª geração de Wong Fei Hung. O mestre da brasileira treinou com o grande mestre Yuen Ling, este um discípulo de Tang Fong, figura que continuou o legado de Wong Fei Hung.
Portanto, Giovanna faz parte da 4ª geração, uma vez que se inseriu na linhagem após treinar com Yee. Ela o conheceu em São Paulo, em 2017, quando o mestre chinês aceitou recebê-la como discípula.
Além do estilo hung ga, Giovanna também ensina o tai chi, outra modalidade do kung fu. Ele é considerado uma espécie de meditação em movimento. Segundo ela, a prática é recomendada para todas as pessoas, inclusive idosos.
“O tai chi tem movimentos lentos, mas que exigem muito da musculatura. É um exercício de baixo impacto, mas que aumenta a força nos músculos, nas articulações e nos ossos”, pontua a professora.
Atualmente, Giovanna ministra um curso de extensão para a MT Escola de Teatro, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Ianca Santos, 27, é uma de suas alunas. Ela é estudante de teatro e se interessou pelo curso para melhorar sua consciência corporal, aspecto essencial para atores.
“Eu sou estudante de teatro com ênfase em atuação. Eu me interessei para ter consciência do corpo, presença, concentração”, explica.
Ianca é aluna de tai chi há apenas um mês. Apesar do curto período, ela destaca uma maior percepção do próprio corpo como um dos fatores que mudaram com a arte marcial.
“A disciplina que a gente precisa ter nas aulas faz com que a gente se acostume a perceber mais o nosso corpo no dia a dia. Agora, eu sinto mais o meu corpo, sinto quando eu piso o pé no chão. É comum a gente viver a vida sem prestar atenção nos sentidos do nosso corpo, e o tai chi me trouxe essa consciência. De vez em quando, eu me pego colocando pressão na coluna, e eu percebo e já mudo”, conta.
Fonte: Gazeta Digital
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