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Quatro anos após homem ser assassinado a tiros por causa de mentira contada em Vilhena, irmã realiza o sonho dos dois nas estradas

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Irmã de Domingos comemora a realização do sonho que cultivavam juntos: ser caminhoneiro

Vilhena, RO - A madrugada do domingo 1 de novembro ficará para sempre marcada na memória de uma família vilhenense. Naquela data, quatro anos atrás, Domingos de Souza Francisco, de 37 anos, foi morto a tiros durante uma abordagem policial.

As circunstâncias que levaram à morte de Domingos, que atingido por seis tiros disparados pelos policiais militares que o abordaram, foram as mais funestas possíveis. Ele foi acusado de ter assaltado o motorista de um ônibus. História inventada pelo próprio condutor do coletivo, que não gostou que Domingos tivesse filmado seu ônibus, que estava parado no meio da rodovia por causa de uma garota deitada na pista.

Os dois discutiram e Domingos saiu em direção a sua motocicleta, que estava estacionada na via paralela à rodovia que corta a cidade. Foi nesse momento que o motorista viu a viatura da PM e gritou, acusando Domingos de ter tentado assaltá-lo. Durante a abordagem, Domingos acabou baleado e morto.

A família de Domingos nunca aceitou a versão do motorista, de que o agricultor teria tentado lhe roubar. Ouvida pelo FOLHA DO SUL 30 dias após a morte dele, uma das irmãs afirmou que a família iria provar que Domingos foi executado sendo inocente.

Em dezembro de 2020, pouco mais de 40 dias após a morte de Domingos, o motorista do ônibus mudou o depoimento e confessou à polícia que não houve qualquer tentativa de roubo.

Quase um ano após a morte de Domingos, a Delegacia de Homicídios de Vilhena concluiu o inquérito. O relatório apontou que a mentira contada pelo motorista do ônibus causou a morte do agricultor, contra quem o delegado que presidiu o caso declarou em entrevista coletiva, não haver qualquer histórico policial.

A polícia indiciou o motorista por denunciação caluniosa. Já em relação aos policiais, a investigação apontou que pelo estado dos projéteis não foi possível identificar o autor dos disparos. E mais: o delegado declarou durante a entrevista que “eles (policiais militares) não tiveram a intenção de matar.”

A família não concordou com o resultado do inquérito. Cerca de um mês após a conclusão da investigação, as irmãs de Domingos tiveram acesso a um vídeo gravado pelos próprios policiais e que mostra Domingos no chão, algemado.

Na filmagem, um dos policiais narra o que supostamente teria ocorrido, e afirma que Domingos teria tentado atirar contra eles, mas que a arma teria “picotado”, e que depois ainda teria os atacado com um canivete e conclui dizendo: “levou uma camaçada de tiros.”

Com a apresentação do vídeo ao Ministério Público, uma reconstituição foi feita e o caso foi reaberto. No último mês de outubro, conforme relatou Luci de Souza Francisca dos Santos, uma das irmãs de Domingos, houve uma audiência na justiça, mas nem os policiais, nem o advogado deles compareceu.

O motorista do ônibus foi ouvido e, segundo Luci de Souza, teria se retratado com a Justiça. “Ele declarou que o policial matou Domingos porque ele quis, que ele (motorista) não mandou. Ele afirmou que só queria que dessem um susto nele. E confirmou que o Domingos não o roubou e que se arrependeu de ter feito isso”, relatou Luci de Souza lamentando: “mas não tem como voltar, a vida do Domingo não volta mais. Eles mataram não só o Domingos, mas a minha família.”

Apesar da dor pela perda do irmão e da luta por justiça, Luci de Souza comemora a realização de um sonho que ela compartilhava com o irmão: ser caminhoneiro. Os dois fizeram aulas juntos na mesma auto escola. Mas Domingos teve o sonho interrompido.

Porém, a irmã seguiu obstinada e quase 4 anos após a morte do familiar, Luci de Souza está na estrada dirigindo um caminhão de 25 metros. “Eu realizei o sonho dele, que era ser motorista de carreta. Eu realizei pelo meu irmão, entendeu. E queria prestar essa homenagem a ele”, disse a motorista, reforçando que a luta por justiça continua. Ela revelou que está agendada para fevereiro uma audiência da ação indenizatória que a família move contra o Estado.




Fonte: Folha do Sul

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